A Paulicéia já foi chamada de “túmulo do samba” por Vinícius de Moraes, o poetinha. Até hoje, muitos cariocas não admitem (ou fingem não acreditar) que paulista saiba fazer samba. A levada é diferente, as raízes de um lugar são diferentes das raízes do outro, a melodia, a harmonia, a inspiração, tudo varia de um lugar para o outro. É preciso ir atrás, resgatar, descobrir, garimpar novos talentos do samba na cidade de São Paulo. Entretanto, quando se vive o samba em toda sua intensidade, os nomes surgem. E com eles o samba puro, autêntico, sem deturpações. Do jeito que o mestre Candeia gostaria de ver e ouvir.
Paulinha Sanches, Paulinho Timor, Marcelo Homero e Edu Batata são alguns desses nomes bons de São Paulo. Jovens, talentosos e, acima de tudo, sambistas, valorizam o que há de mais sublime no samba: a cadência, os versos ricos em melodias, a inspiração espontânea e, como não poderia deixar de ser, a harmonia, tanto aquela que vem da música quanto aquela que envolve a todos, nas rodas de samba.
Paula Sanches é uma das mais talentosas e promissoras cantoras que surgiram no meio do samba nos últimos tempos em São Paulo. Diferente das jovens cantoras de MPB que pipocam por aí (e que cantam qualquer coisa, sem uma linha específica), Paulinha é uma cantora romântica. Romântica no sentido mais puro da palavra: é uma cantora de samba porque ama o samba, porque vive o samba e porque cultua o samba. É uma sambista da linhagem de Isaurinha Garcia, Linda Batista e Carmen Miranda. Suas interpretações marcantes de sambas sincopados do passado a diferenciam das outras “sem linhagem”. No samba “Não Bula na Cumbuca” de Paulinho Timor, ela esbanja categoria. Gravando com descontração, como se estivesse numa roda de samba na “Meirinha”, Paulinha mostra pra que veio: pra continuar o legado riquíssimo do samba, para mostrar que há novas (e boas) cantoras de SAMBA surgindo e, principalmente, para tocar a sensibilidade humana com interpretações de sambas tão comoventes. Uma cantora de categoria, uma sambista de S maiúsculo.
Quem interpreta a outra composição de Paulinho Timor, “Aquela Maria” é o sambista Marcelo Homero. Cantor, ritmista dos bons e compositor, Marcelo é um dos fundadores do Projeto Nosso Samba, de Osasco, que tem como propósito resgatar e preservar o samba de terreiro autêntico e atualmente toca surdo e canta no conjunto Inimigos do Batente, além de fazer uma roda por semana com os amigos Paulinho Timor, Paulinha Sanches, Edu Batata e Kaká Sorriso no Clube Etílico Musical, o famoso bar da Meirinha, na Vila Madalena. Marcelão já acompanhou nomes como Wilson Moreira, Germano Mathias e Tantinho da Mangueira, além de outras feras do Rio e de São Paulo. Seu timbre de voz é inconfundível e sempre surpreende os apreciadores de samba mais exigentes com seu repertório de sambas “lado B”. É um monstro do samba.
O compositor destes dois sambas chama-se Paulo Leal Ferreira Vargas Netto, mas é conhecido nas rodas de samba como Paulinho Timor. Apesar da pouca idade (25 anos), tem experiência de sobra no mundo do samba. Afinal, não é qualquer um que já tocou tamborim com Monarco, versou com Wilson Moreira e comeu os quitutes da Tia Surica... Paulinho é compositor dos bons. Seus amigos mais próximos sabem cantar de cor e salteado dezenas de (bons) sambas que nunca foram gravadas, mas ficam para sempre na memória do sambista. E ficam na memória apenas porque emocionam e tocam no fundo da alma da gente. Batuqueiro nato e cavaquinista por diversão, ele também já acompanhou muitos bambas pela estrada da vida afora. Uma de suas maiores emoções foi acompanhar o mestre Roberto Silva, de quase 90 anos, numa roda memorável no bar Ó do Borogodó. Esse promete.
Por fim, falaremos do cantor, cavaquinista e compositor Eduardo Luiz Ferreira, o Edu Batata. Diretamente de Pirituba, zona oeste de São Paulo, esse mestre do cavaco comove com seus floreados e acordes divinais todos que tem o samba como ideal e paixão maior na vida. Tocando com os Inimigos do Batente, com o Samba Rahro, na roda de samba semanal da Meirinha ou com os amigos, Edu toca seu cavaco com um sorriso estampado no rosto. Sorriso esse que parece se misturar com os acordes que ressoam de seu cavaquinho e contagia a todos. Ao longo de sua carreira, já acompanhou grandes personalidades do samba como Monarco, Jair do Cavaquinho e Xangô da Mangueira. Seu coração é cheio de amor como suas composições são ricas em melodia.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
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